7 de abr. de 2010

De João Pedro Stédile para Luis Nassif

Estimado Luis Nassif,

tenho lido com alguma frequência seus artigos e cumprimento por sua clareza, determinação e coragem. Vi um comentário recente (em http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/2010/03/28/sobre-manifestacoes-e-estrategias-politicas/ ), que faz referência a declarações que eu teria dado ao Zero Hora, de Porto Alegre, fazendo uma suposta autocrítica sobre as ocupações de terra.

Infelizmente, o jornalista charlatão me fez uma longa entrevista de mais de uma hora, e depois editou de acordo com os interesses de seus patrões. Mas gostaria de esclarecer o sentido das minhas respostas para você e seus leitores.

No atual período histórico, disse e reafirmo, não está mais em disputa apenas os interesses dos pobres sem-terra e dos latifundiários, que se apropriaram de grandes extensões de terras públicas mantidas ociosas como reserva de valor.

Estamos num novo período histórico, determinado pelo avanço do capitalismo internacional e financeiro sobre a agricultura brasileira, que leva a uma disputa entre dois projetos socioeconômicos para organizar a produção agrícola.

De um lado, os latifundiários “modernizados” (em geral, propriedades acima de 500 hectares), que construíram uma aliança com as empresas transnacionais, fornecedoras de insumos, sementes e compradoras da produção. Dessa forma, impõem o preço e controlam o mercado externo, a quem se destinam as chamadas commodities.

Esse modelo se chama de agronegócio, que se caracteriza pela necessidade de concentrar a propriedade da terra para aumentar cada vez mais a sua escala.

Expulsa o povo do interior para as grandes cidades, porque não oferece oportunidades de trabalho suficientes aos trabalhadores rurais.

É agressor do ambiente, pois o monocultivo destrói todas as outras formas de vida vegetal e animal, e só consegue produzir com elevado uso de venenos agrícolas. Daí porque o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de agrotóxicos do mundo – que são, aliás, produzidos por empresas transnacionais.

Do outro lado, temos a agricultura familiar, que prioriza o mercado interno, com a produção de alimentos sadios, por meio de práticas agrícolas em equilíbrio com a natureza, com agricultura diversificada e que demanda muita mão-de-obra.

No outro ciclo histórico, a ocupação de terras era a principal forma de luta. Era suficiente para enfrentar o latifúndio e abrir um processo de democratização da propriedade da terra. E foi com essa prática que o MST nasceu.

Agora a ocupação de terras é insuficiente para enfrentar o modelo do agronegócio. Por isso, além das ocupações, o MST deve desenvolver novas formas de luta, que envolvam todos os camponeses e outros setores da sociedade interessados em mudar esse modelo de exploração agrícola, que agride o ambiente e produz alimentos contaminados.

Ou seja, nas regiões do país em que ainda existem muitos latifúndios improdutivos e trabalhadores sem-terra, certamente a ocupação continuará sendo a principal forma de luta – que vem acontecendo, inclusive, independente da existência do MST -, implementada por diversos movimentos sociais ou como reação à pobreza de comunidades rurais.

No geral, além das ocupações, devemos desenvolver novas formas de luta, para conscientizar a sociedade das perversidades do agronegócio e suas conseqüências para o nosso povo e para toda a sociedade.

Certo de sua atenção, receba um forte abraço

2 comentários:

  1. Tudo muito bonitinho, muita teoria e conhecimento acerca do tema, no entanto o nobre terrorista esquece que estamos em um Pais praticante da democracia e com um vasto e vigente Ordenamento Juridico que por todos deve ser obedecido, de acordo com seus ditames.
    Fazer esse tipo de terrorismo anunciado, onde de antemão esse grupo faz suas ameaças, não deve ser a boa prÁtica para conseguir o que se pretende, procurem e busque contato, conciliação e etc..
    Se todos os cidadãos que sejam carentes de alguma coisa se reunir para tomar por intermedio da força e do terror, não tem cabimanto dentro de um Estado Democratico de Direito.
    Já houve o tempo em que se obtinha justiça pelas proprias mãos, por isso que foi criado e existe o Estado, embora virtual em certos aspectos, ele está aí e é dele que se deve cobrar.
    O marginal grupo MST e seus congeneres não detem legitimidade e/ou autoridade para realizar essas ações que vm adotando, são ums fora^s da lei e como tal devem ser tratados, isso não é papel de brasileiros que se dizem preocupados com esses problemas, tais como os que foram apostos em seu post, é um contracensso, muitas outras formas de resolução desses tipos de conflitos devemm ser encontradas.
    É lamentavel porem é assim que deve ser tratado o tema.


    Atenciosamente.

    Carlos Bonasser

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  2. Para que se pudesse falar em democracia
    no Brasil o tal "ordenamento jurídico"
    precisaria ser totalmente reformado.

    Temos um judiciário totalmente desprovido
    da capacidade de promover justiça.

    Lutas como a do MST são uma constante
    na história, pela sua capacidade de transformar
    a sociedade. O MST é desconfortável para a elite
    e classe média, mas necessário.

    Tivemos muitas conquistas socias nos últimos
    anos. Elas teriam acontecido sem mecanismos
    de pressão como o MST?

    Os abolicionistas também já foram fora da lei.

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