21 de set. de 2010

Desemprego ao estilo tucano

Serra primeiro prometeu o reajuste de R$ 600,00 para os trabalhadores, coisa que em seu governo (FHC/Serra) nunca passou de US$ 85,00. Agora, o padrinho do fator previdenciário diz que vai aumentar em 10 % os aposentados (ahhahaha) . O engraçado é que quando governava com FHC o discurso sempre foi de que qualquer reajuste real para os trabalhadores não poderia ser dado para os aposentados, pois  quebraria a previdência social. Além da taxa recode de desemprego, Serra sempre esteve ao lado de medidas contra os trabalhadores e falava a mesma lingua da Fiesp e de meia duzia de empresários. O PIG, é claro, se encarregava de dizer que isso era verdadeiro.
Por isso peguei emprestado este excelente texto da Carta Capital denominado Desemprego ao estilo tucano. Nele é  possível verificar a deterioração do mercado de trabalho nos anos 90, onde os ideólogos do PSDB culpavam os trabalhadores . O artigo é de Sergio Lirio.

Esqueçam o que eu fiz. Poderia ser essa a resposta de Fernando Henrique Cardoso sobre o tema geração de empregos. A vantagem de Lula nesse quesito é abissal.

Enquanto a economia no período de FHC criou 797 mil postos de trabalho com carteira assinada, sobretudo após a recuperação entre 2000 e 2002, quando a desvalorização do real impulsionou as exportações, na era Lula foram quase 9 milhões de empregos formais. A taxa de formalização pela primeira vez ultrapassou a marca de 50% da força de trabalho. O fenômeno recente derruba mais um dogma dos anos 90 alimentado pelos neoliberais: o de que a economia globalizada havia decretado a morte dos empregos com carteira assinada. Foi o tempo em que o ministro do Trabalho de FHC, Edward Amadeo, lançou o neologismo “inempregável”, como se a culpa da falta de vagas fosse de quem buscava uma colocação e não dos problemas da economia. Outro herói do período foi o economista José Pastore, da USP, sempre pronto a defender uma maior flexibilidade das leis trabalhistas ante a nova realidade.

A pedido de CartaCapital, o professor Waldir Quadros, da Unicamp, que há três décadas estuda o mercado de trabalho e a evolução das classes sociais no Brasil, fez um levantamento do total de ocupados e desocupados de 1995 a 2008. Por uma questão metodológica (para tentar medir o desalento, Quadros considera desempregado quem busca trabalho em um período de dois meses. O IBGE usa o critério de um mês), há pequenas diferenças porcentuais de suas taxas em relação aos índices oficiais. Essa discrepância não muda, porém, as tendências ao longo do tempo.

Na era do populismo cambial (1995-1998), a massa total de ocupados ficou estagnada: variou de 69,4 milhões a 71,3 milhões. De 1995 a 1999, o Brasil perdeu mais de 1,2 milhão de empregos com carteira assinada, segundo dados do Ministério do Trabalho.

A desvalorização da moeda brasileira, que atenuou o processo de desindustrialização, melhorou a situação. De 1999 a 2002, a massa de ocupados subiu de 70,6 milhões para 79 milhões de trabalhadores. Mesmo assim, de acordo com o levantamento de Quadros, a taxa de desemprego no período fernandino subiu de 8% para 11,7% da população economicamente ativa.

“Até hoje o mercado de trabalho não se recuperou. O Brasil precisa crescer acima de 6% e melhorar o conteúdo de seu desenvolvimento para mudar a situação e absorver o estoque de desocupados. O governo Lula gerou muitos empregos, mas a quantidade mal deu para suprir a chegada anual de novos trabalhadores ao mercado. Além disso, são vagas no agronegócio e nos setores de consumo de baixo valor agregado. É fundamental retomarmos a industrialização e reconstruirmos as cadeias produtivas”, explica Quadros.

Um dado que dá bem a medida do argumento do professor da Unicamp: de 1993 a 2002, o total de desocupados subiu de 5,5 milhões para 10 milhões de brasileiros. Entre 2003 e 2008, caiu de 10,5 milhões para 8,8 milhões.

A “modernidade anti-getulista” de FHC produziu outro efeito deletério para as finanças públicas. Enquanto caía o número de trabalhadores que contribuíam para a Previdência, aumentava o número de beneficiários. Em um sistema de partilha, no qual os empregados sustentam os inativos, esse é o pior dos mundos. No balanço geral, a economia no período tucano abriu 797 mil vagas formais, ao mesmo tempo que 5,8 milhões de trabalhadores ingressaram na lista de beneficiários. Parte dessa expansão se explica pela incorporação de trabalhadores rurais ao INSS. Outra tem a ver com as privatizações, a perda de competitividade econômica e as ameaças de reformas radicais do sistema previdenciário. No período Lula, a situação inverteu-se: foram 8,7 milhões de postos (e novos contribuintes) e cerca de 5 milhões de novos beneficiários.

Aliás, o problema pontual de geração de caixa da Previdência nos anos 90 deu asas a outra ideologia. Diante do crescente rombo, fruto, como vimos, da queda dos contribuintes e do aumento dos beneficiários, ganhou corpo no governo FHC a defesa da privatização do sistema, à moda do Chile e da Argentina. O mentor da proposta foi o economista André Lara Resende, que preparou um longo estudo a favor da ideia e foi celebrado nos cadernos de economia dos principais jornais do Brasil. Em uma dessas publicações, um colunista chegou a escrever: “Não conheço a proposta de André Lara, mas sei que ela é genial”.

O tempo e o vento costumam colocar as coisas no devido lugar. Os sistemas privados do Chile e da Argentina entraram em colapso na primeira década do século XXI. Na terra de Augusto Pinochet, menos de metade da força de trabalho participa de algum fundo de pensão – o resto está ao relento. A crise de 2001 provocou uma perda de 75% do valor do patrimônio dos pensionistas argentinos (até hoje a Argentina não se recuperou do desastre Carlos Menem). Já Lara Resende, o genial, mora em uma quinta em Portugal e vive a levar de jatinho seus cavalos puro-sangue para partidas de polo no Reino Unido.

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