8 de set. de 2010

Sargento agiu com a concordância do centro do governo Yeda

A bancada do PT está convencida de que o sargento Cézar Rodrigues de Carvalho, suspeito de ter violado o Sistema de Consultas Integradas da Polícia, não agiu sozinho. Em entrevista coletiva concedida na tarde desta quarta-feira (8), os deputados Raul Pont e Stela Farias afirmaram que há fortes indícios de que o esquema de espionagem não é novo e foi arquitetato por integrantes da cúpula do governo gaúcho. “Tudo leva a crer que a ação do sargento contava com o conhecimento do centro de governo e era acobertado por integrantes da Casa Militar”, afirmou a deputada Stela, uma das parlamentares que teve a vida bisbilhotada pelo militar.

Entre janeiro e agosto de 2009, o sargento teria realizado mais de 10 mil acessos, utilizando duas senhas – a comum e a máster, de caráter restrito. Entre os investigados, estão o ex-deputado Flavio Koutzii (PT), o deputado Luís Augusto Lara (PTB) e Stela, que presidiu a CPI da Corrupção. Os acessos às informações dos petistas ocorreram em outubro do ano passado, no ápice das investigações da comissão parlamentar de inquérito. “Chama a atenção o período em que os acessos foram realizados. Não é exagero concluir que as pesquisas tinham objetivos políticos, muito provavelmente de atemorizar parlamentares em pleno exercício de seus mandatos”, frisou Pont.

A arapongagem não se restringiu a vasculhar a vida de deputados, mas invadiu também a intimidade de seus familiares. Na segunda-feira (6), Stela foi alertada pelo promotor que cuida do caso, Amílcar Macedo, que seus três filhos, um deles de apenas oito anos de idade, também foram alvos de espionagem. “O papel da Casa Militar é o de garantir a segurança institucional da governadora. Dentro desta concepção, não há nada que justifique o monitoramento de uma criança de oito anos”, apontou Stela, que deverá nomear um advogado para acompanhar as investigações do caso.

Medidas

Os deputados do PT anunciaram também as medidas que deverão tomar em relação ao episódio. A primeira delas é de requerer que o colégio de líderes (instância que reúne os líderes de todas as bancadas da Assembleia Legislativa) exija esclarecimentos do governo. “Trata-se de uma prática inaceitável, cujo objetivo é o atemorizar deputados. Um parlamento livre não pode conviver com este tipo de ação governamental”, salientou Pont.

O deputado quer que o Executivo informe quem liberou a senha máster para que o sargento violasse o sistema. “É uma senha a que poucas pessoas têm acesso. Portanto, para saber quem a forneceu, não é preciso uma longa investigação. Basta vontade política de elucidar os fatos”, acredita.

O PT quer esclarecimentos também sobre o destino dos recursos provenientes da extorsão de contraventores. “Temos informações de que o dinheiro não ficava só com o sargento, mas era dividido. Queremos saber com quem”, apontou Stela.

A parlamentar anunciou, ainda, que a bancada irá solicitar ao Ministério Público a transferência de custódia do sargento da Brigada Militar para a Polícia Federal. “O sargento é peça chave para esclarecer os fatos. É preciso toda a garantia de preservação de sua integridade.”

Banrisul

O rombo de mais de R$ 10 milhões do Banrisul também deverá ser investigado pela bancada petista. A primeira providência dos parlamentares será solicitar ao Conselho Nacional de Justiça a avaliação da conduta do juiz militar Fernando Lemos, que presidiu o Banrisul e está sendo processado por gestão temerária do órgão. “Queremos saber se, nesta condição, ele pode ocupar a vaga de juiz do Tribunal Militar”, declarou Pont.

O PT deverá solicitar, ainda, a realização de uma audiência pública na Comissão de Serviços Públicos da Assembleia Legislativa para tratar do desvio de recursos do banco gaúcho.

Foto: Kiko Machado

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